Antes do amanhecer, Samanttha já estava cuidando do fogo e aprontando-se para o dia. Ela estava indo atrás da casa para buscar madeira, quando o barulho de um cavalo fez Samanttha girar e ela deixou cair a braçada de madeira. O cavalo veio em sua direção e parou ao lado de Samanttha. O suor brilhava no pescoço do animal e havia uma selvageria em seus olhos que sugeriam que ele havia sofrido um susto. Ela logo o reconheceu, era o cavalo de Clarie. Logo seus olhos cravaram na mulher caída sobre a sela e no sangue que escorria constantemente para o chão.
Antes que ela pudesse reagir, Clarie cai do cavalo com um pesado baque, batendo a cabeça em uma pequena rocha cravada no chão.
Samanttha estremeceu.
- Santo Jáh, Clarie, o que fizeram com você?
O cavalo dançou de um lado para o outro, deixando Clarie deitada aos pés de Samanttha. Ela se abaixou, puxando a túnica dela, enquanto procurava a fonte de todo o sangue. Quando afastou o tecido em frangalhos, viu um enorme rasgo na carne, fazendo-a arquejar.
Havia um corte que ia do quadril para logo abaixo do braço. A carne aberta foi esfolada e a ferida tinha pelo menos um centímetro de profundidade. Felizmente não era mais profundo, pois certamente teria sido um golpe mortal.
Com certeza seria necessário agulha e linha e muita oração para ela não sucumbir a uma febre.
Mas tinha que levava para casa, ela se levantou e correu para sua casa.
- Edmundoooooooo - Samanttha gritou.
- O que foi Samanttha? - Disse Edmundo.
- A Clarie, ela está estirada no chão na entrada da casa... alguém atacou ela.
Edmundo não pensou duas vezes, saiu apressadamente ao encontro de Clarie. Aproximou e pegou-a no colo, levando-a para seu quarto.
Já no quarto, Samanttha faz uma inspeção mais próxima, percebendo um pequeno machucado na cabeça de Clarie, que obviamente deve ter adquirido ao cair do cavalo.
Organizou os cobertores e travesseiros em torno dela para que se sentisse mais confortável. Em seguida, ela reuniu seus suprimentos e agradeceu por Clarie ter viajado à Guarda há poucos tempos para reabastecer sua despensa de ervas. Conseguiu juntar quase tudo o que precisava. Graças ao bom Jáh, tinha um excelente dom para cura.
Quando o povo não precisa da ajuda de Samanttha, não tinham receio de chamá-la de bruxa, só por ter certos conhecimentos, mas não tinham pudores em procurá-la quando um deles precisava de cura. Eles eram hipócritas.
Se Samanttha tivesse um espírito mesquinho, ela os trataria da mesma forma como eles a trataram, mas ela tinha um bom coração e não sabia negá-lhe ajuda.
Ela amassou ervas mistas e folhas, acrescentando água suficiente para fazer uma pasta. Assim que ficou satisfeita com a consistência, deixou-a de lado e começou a preparar ataduras de um linho que guardava para tais emergências.
Quando tudo estava em ordem, voltou para Clarie e se ajoelho ao seu lado. Ela não tinha recuperado a consciência desde que foi levada para a cama. E estava grata por isso. A última coisa que precisava era de uma mulher rabugenta reclamando.
Ela com ajuda de Edmundo, tirou-lhe as roupas de Clarie. Após ajudá-la Edmundo, sai do quarto deixando-a sozinha com Clarie.
Logo em seguida, ela mergulha um pano em uma tigela de água e suavemente começou a limpar a ferida. O sangue fresco escorria do machucado enquanto ela tirava a crosta seca. Era meticulosa em sua tarefa, não querendo deixar uma partícula de sujeira na ferida quando se fechar.
Era um ferimento irregular e que deixaria uma cicatriz grande, mas não era nada que a mataria se ela não tiver febre.
Depois de estar convencida de que Clarie estava limpa, ela apertou a carne novamente e pegou a agulha. Prendeu a respiração no momento em que espetou a agulha na primeira vez, mas Clarie continuava a dormir, então rapidamente fez os pontos, certificando-se de que estavam bem apertados e juntos.
Calculou que a ferida devia ter pelo menos oito centímetros de comprimento. Talvez dez. De qualquer forma, Clarie sentirá dor quando se mover nos próximos dias.
Quando ela fez o último ponto, sentou-se e suspirou de alívio. A parte mais difícil tinha acabado. Agora precisava cobri-la de bandagens e segurá-la no lugar. Tirou os cabelos de seus olhos e foi esticar suas pernas que doíam.
Caminhou até o penhasco, aonde estava Edmundo olhando a Amellie brincar.
- Como ela está? - Perguntou Edmundo, logo depois que ela se aproximou.
- Aparentemente bem, conhece a Clarie, não será isso que irá matá-la. - Samanttha disse com um sorriso tímido no rosto.
- Amellie sabe o que aconteceu?
- Ela sabe apenas que Clarie voltou de viagem, nada mais, o bom que ela e Clarie não são muito apegadas.
- Pois é... vou ver como está a Clarie e terminar de cuidar do seu ferimento, continue a cuidar da Amellie.
Samanttha volta pra casa, vai na cozinha e pega uma bacia cheia de água. Então, lavou a ferida mais uma vez antes de aplicar uma grossa camada de cataplasma sobre a carne suturada. Dobrou várias tiras de tecido para fazer uma bandagem. E desajeitadamente enrolou as tiras ao redor da cintura para segurar a bandagem no lugar.